Pintura de Anita Malfatti esconde mulher nua; descoberta foi feita por professores da UFMG
07/06/2025
(Foto: Reprodução) Retrato feito em 1934 revela um sorriso contido de Dora, parente de Malfatti, mas encobre pintura feita anteriormente em que uma mulher posa nua. Anita Malfatti é pioneira do modernismo no país. Obra inédita de Anita Malfatti é descoberta sob outra tela da artista
Professores do Centro de Conservação e Restauração de Bens Culturais (Cecor), da Escola de Belas Artes da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), descobriram uma outra pintura por trás da tela Dora, da pintora Anita Malfatti, de 1934.
Dora, que era parente de Malfatti, é retratada na pintura com um vestido claro, de mangas bufantes e sem decote. A cena é bem diferente da que está encoberta: uma mulher posando nua.
"Nós conseguimos identificar uma outra obra, uma outra pintura feita por trás dessa. Identificamos que tem uma moça deitada aqui, nua, por trás dessa pintura. Conseguimos reparar a cabeça dela, o braço, o corpo, outro braço e a perna. Até os pés a gente consegue ter uma vaga noção de como foi feito, como foi desenhado o esboço dela", explicou Lucas Cotta, programador da IFRJ.
Para que os pesquisadores pudessem ver mais claramente o desenho escondido, o quadro passou por um exame no aparelho chamado de IRR, que usa a radiação infravermelha refletida na imagem. Esse aparelho foi fornecido pelo Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ).
A obra de arte também passou por exames no Macro XRF, um equipamento que analisa os elementos químicos presentes na pintura.
Dora, quadro pintado por Anita Malfatti
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"De primeiro, eu olhei e falei: gente que interessante. Todo mundo viu, tem uma pintura por baixo. [Pensei que era] uma cabeça de burro, orelha, cabeça, focinho. Chamamos a colega professora Alessandra, que veio e, muito educadamente, perguntou se a gente nunca tinha visto um nu", contou o vice-presidente do Cecor-UFMG, Luiz Antônio Souza.
Pesquisadores utilizaram equipamentos de raio-x e infravermelho para descobrir outra pintura debaixo da Dora
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"É claramente visível que você tem uma pintura por trás. Interessante é que não foi só um rascunho. [Com esse aparelho] aqui a gente sabe que esse rascunho teve uma camada pictórica, que ele foi realmente pintado. Tem pigmento a base de estronço que foi usado para fazer essa coloração", disse o professor da instituição carioca, André Pimenta.
Outras pinturas analisadas
Os equipamentos utilizados pra desvendar os segredos do quadro de Anita Malfatti também estão servindo pra comprovar a autenticidade de outras obras de arte, como no caso de uma tela atribuída a Di Cavalcanti.
Os pesquisadores explicam que já foi possível identificar o tipo de material usado para pintar uma tela de 1967.
"Tudo indica que o autor dessa tela tenha utilizado um tipo de cola de natureza proteica, ou ovo, ou cola animal, por conta das características de bandas espectrais do infravermelho. Mas eu vejo claramente que tem azuis bem característicos, não muito modernos. A gente encontrou azul da Prússia, um pigmento antigo, que hoje o pessoal já não usa porque tem pigmentos modernos que são industriais. E o azul da Prússia ele era um, digamos assim, um pouco artesanal", analisou Valter Félix, professor do IFRJ.
Tela atribuída a Di Cavalcanti também está sendo analisada pelos pesquisadores
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Quem foi Anita Malfatti
Anita Malfatti foi uma artista pioneira do movimento modernismo brasileiro. Ela nasceu em São Paulo, em 1889.
Malfatti aprendeu a pintar com a sua mãe, mas passou por escolas da Alemanha e do Estados Unidos. Ficou conhecida no meio artístico principalmente após a pintar o quadro "O Homem Amarelo".
Anita Malfatti morreu em 1964, no mesmo estado em que nasceu.
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